quarta-feira, 16 de maio de 2012

Onde estás? Os problemas em fugir de um problema

No princípio, Deus amou. Por causa do Seu amor, Ele criou. No livro de Gênesis, Deus lança diversas afirmações comparadas ao som de uma orquestra. “Haja luz” (Gn. 1:3) foi a primeira afirmativa e, como uma nota musical, soou das cordas vocais do Criador em direção a terra. Logo em seguida, Deus ordenou: “haja uma expansão no meio das águas” (Gn. 1:6), e a melodia apressou-se em obedecer a ordem divina, separando águas e águas.

Nos primeiros dias da criação, cada palavra que fluía do coração de Deus desenhava formas e cores que enfeitavam a terra. Árvores, sementes, o sol, a lua e os animais, cada qual brotava de um novo acorde, despertados pelo som celeste. Surge o primeiro homem e, mais uma vez, são as cordas vocais do próprio Deus que se encarregam de anunciar o sonho uníssono da Trindade: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn. 1:26). Da mesma boca sai o sopro vivificante, inaugurando a vida nos pulmões de Adão.

O sopro divino passeava pelo corpo do novo homem. Quando Deus decide criar a mulher, busca a matéria-prima na mesma região dos pulmões: “E da costela… formou uma mulher” (Gn. 2:22). Logo na criação, Deus já estabelecia a missão da mulher. Formada de uma costela – parte do corpo que tem a função de proteger, principalmente, o pulmão –, Eva já nascia com a incumbência de fornecer abrigo. Não foi à toa que Deus escolheu a mulher para carregar no ventre as vidas que haviam de existir, além de “programar” uma farta produção de leite no corpo feminino para o sustento de Seus filhos.

Pronto. Estava concluído o trabalho da criação.

De repente, um agudo estridente fere os ouvidos de Deus. A perfeita ordem de Sua melodia desafina com a chegada do pecado. Neste exato momento, após tantas afirmativas divinas, irrompe no Universo a primeira pergunta do Criador. Em Gênesis 3.9 vemos o primeiro ponto de interrogação vindo da parte de Deus: “Onde estás?”. A questão revela duas coisas bastante pertinentes: um Deus que se prontifica a resolver problemas e sai à procura daqueles que criou e ama intensamente e a nova imagem do homem (agora decaído), que foge e procura se esconder.

Já é conhecido por todos o que vem a seguir. As consequências da desobediência de Adão e Eva atravessaram séculos e continuam a fazer vítimas por meio do pecado. O que gostaria de chamar a atenção neste episódio tão antigo é a atualidade com que a postura adâmica se manifesta em nossas vidas. Basta aparecer um problema (seja o próprio pecado ou uma situação comum do dia a dia) e lá estamos nós, escondendo-nos atrás das árvores ou cobrindo-nos com folhas de figueiras.

Esse tipo de circunstância pode ser facilmente notado, por exemplo, quando existe a necessidade de perdão. Não é fácil romper a camada de orgulho que se formou após uma calorosa discussão, ainda mais quando, aparentemente, se tem a razão. É interessante pensar que quando Jesus falou a respeito de se perdoar setenta vezes sete (ao dia!) não disse nada sobre “depende de quem estiver com a razão”. Neste caso, como aconteceu com Adão e Eva, o casulo da fuga se apresenta como o abrigo mais atraente e seguro, mas torna-se um veneno mortal para o amadurecimento de uma vida em Deus.

Ao ignorar o problema ou, literalmente, fugir do lugar onde ele se encontra, a sensação que nos afeta é sempre a mesma: problema resolvido! Se a intenção é viver uma vida de aparências, esse é um bom mantra a ser repetido vida afora. Porém, se o desejo é conhecer uma realidade celestial, estamos falando de sacrifício e humildade – postura adotada por Deus no momento da queda. Quando é Ele quem se aproxima primeiro – “onde estás?” –, a humildade sobressai. O sacrifício também está implícito na ocasião, pois o Deus-Todo-Poderoso não poderia e nem deveria inclinar-se até nós. Mas Ele o fez, impregnado de um amor incondicional.

Crescer é caminhar pela porta estreita. Quando nos deparamos com um determinado problema e fugimos – contaminados pela covardia de Adão e Eva –, deixamos escapar a oportunidade de amadurecer nos caminhos de Deus. Quando Caim matou seu irmão Abel, a pergunta – mais uma vez – partiu de Deus: “Onde está Abel?” (Gn. 4:9). Caim jamais tocaria no assunto se Deus não o questionasse, pois é mais fácil esconder do que revelar.

Noé foi o primeiro homem que não fugiu de seu problema – e tinha um do tamanho de uma arca. Ouviu a ordem de Deus e sabia que a obediência ao pedido dEle lhe custaria ouvir as chacotas de seus contemporâneos. Ainda sim, obedeceu. Podia ter fugido ou se justificado numa desculpa até coerente para a época: a inexistência de chuva. Fico aqui pensando na coragem de Noé. Ir contra as leis físicas da natureza para cumprir uma gigantesca e trabalhosa ordem de Deus é realmente de se tirar o chapéu. Não foi à toa que Deus escolheu sua família para repovoar a terra.

A Bíblia está repleta de homens que encararam seus problemas e renunciaram a alternativa “fuja!” apresentada pelo pecado. Seguindo a ordem cronológica bíblica, nosso próximo personagem é Abraão. Correndo o risco de ver sua família acabar mesmo antes de surgir sua descendência – pois Sara poderia ter recusado a ordem divina, direcionada a seu marido, de partir “…para a terra que te mostrarei” (Gn. 12:1). Nesse caso, um problema conjugal seria previsível, mas não foi o que aconteceu. Sairia do ventre de Sara o filho da promessa, por isso mesmo foi Deus quem sustentou aquele matrimônio. Percebe? Quando nos inclinamos à vontade de Deus, nada está fora do lugar, tudo tem o seu propósito.

Poderia citar ainda outros exemplos, pois temos que concordar: a bíblia está cheia de homens com problemas. A promessa de Jesus em João 16:33 (“…no mundo tereis aflições”) foi anunciada muito tempo depois dos acontecimentos relatados em Gênesis, mas já estava sendo cumprida na vida de muitos personagens do Antigo Testamento. A promessa se fez presente também na vida dos apóstolos, do próprio Jesus e continuou sendo observada na vida de Paulo e tantos homens de Deus que ousaram viver o evangelho. Note que os problemas não são uma novidade para os filhos de Deus. Pela lógica divina, são até necessários para o desenvolvimento de uma vida santa. Resta-nos decidir o que fazer diante dos próximos problemas: resolver ou fugir. Deus, em seu imenso amor, continua a perguntar: “Onde estás?”.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Filho Pródigo


O filho de um dos fundadores de uma organização terrorista. Um ambiente indissolúvel de guerra. Um povo ansioso pelo combate. Uma prisão. Depois uma escolha, depois outra, e outra. O mulçumano convicto que passa por duas conversões totalmente inesperadas é Mosab Hassan Yousef, o protagonista da história real narrada por ele mesmo no livro “O Filho do Hamas”, uma obra literária de tirar o fôlego.
Depois de ser o dedicado filho mais velho do xeique Hassan Yousef, Mosab, um jovem palestino que anseia seguir a carreira dedicada e religiosa do pai, decide se envolver na guerra em que todo o seu povo já está envolvido: militando contra Israel, que domina os territórios palestinos. Seu pai é um dos fundadores do Hamas, um movimento islâmico de resistência fundado em 1986, a partir de um encontro secreto com o objetivo de “mobilizar o povo palestino a fazê-lo entender a necessidade de independência sob a bandeira de Alá e do islamismo” (pg. 35). Como qualquer outro palestino, Mosab desejava ser um herói, ter armas, ser temido e defender a bandeira do seu povo. Por isso começou atirando pedras em colonos israelenses e depois de adquirir uma arma, foi parar na prisão. E recebeu uma proposta que mudou sua vida.
Em “O Filho do Hamas”, o leitor se depara com uma possibilidade duplamente milagrosa. Um palestino que aceita ser espião do Shin Bet – serviço secreto interno israelense. E que, depois de descobrir as boas intenções de Israel e a insanidade das facções terroristas, descobre a Bíblia e as palavras “amai vossos inimigos”. O resultado é sublime e assustador. Nas páginas escritas por Mosab, ficamos cara a cara com uma história de genuína conversão, com alguém que descobriu a verdade sobre seu povo, sua religião e, principalmente, sobre si mesmo.
É uma grande experiência mergulhar na vida deste palestino e acompanhar sua afeição pelo pai, a habilidade de, silenciosamente, salvar milhares de vida, a coragem de ter duas vidas perigosas ao mesmo tempo e, principalmente, sua grande sinceridade. Sinceridade é a palavra chave para esta obra e para seu autor. No livro, Mosab não tem meias palavras, é extremamente leal ao que pensa e aos fatos que viu como espião durante anos.
Com um enredo cheio de espionagem policial e situações “entre a vida e a morte”, o livro que não nos faz sentir falta de um romance, traz uma mensagem cheia de esperança: o conflito de povos milenares tem solução, assim como os nossos conflitos pessoais tem solução. E é uma pessoa: Jesus Cristo de Nazaré. O homem que andou pelo Oriente Médio por pouco mais de 30 anos, seus ensinos, suas palavras, sua vida é, irremediavelmente, nossa única solução. fonte revista impacto

quinta-feira, 8 de março de 2012

O QUE É INFANTICÍDIO?

Popularmente usado para se referir ao assassinato de crianças indesejadas, o termo infanticídio nos remete a um problema tão antigo quanto a humanidade, registrado em todo o mundo através da história.

O INFANTICÍDIO ENTRE OS ÍNDIOS:

A violência contra as crianças é uma marca triste da sociedade brasileira, registrada em todas as camadas sociais e em todas as regiões do país. No caso das crianças indígenas, o agravante é que elas não podem contar com a mesma proteção com que contam as outras crianças, pois a cultura é colocada acima da vida e suas vozes são abafadas pelo manto da crença em culturas imutáveis e estáticas.

A cada ano, centenas de crianças indígenas são enterradas vivas, sufocadas com folhas, envenenadas ou abandonadas para morrer na floresta. Mães dedicadas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a desistir de suas crianças. Algumas preferem o suicídio a isso.

Muitas são as razões que levam essas crianças à morte. Portadores de deficiência física ou mental são mortas, bem como gêmeos, crianças nascidas de relações extra-conjugais, ou consideradas portadoras de má-sorte para a comunidade. Em algumas comunidades, a mãe pode matar um recém-nascido, caso ainda esteja amamentando outro, ou se o sexo do bebê não for o esperado. Para os mehinaco (Xingu) o nascimento de gêmeos ou crianças anômalas indica promiscuidade da mulher durante a gestação. Ela é punida e os filhos, enterrados vivos.

É importante ressaltar que não são apenas recém-nascidos as vítimas de infanticídio. Há registros de crianças de 3, 4, 11 e até 15 anos mortas pelas mais diversas causas.

Segundo o Relatório do Centro de Investigação da UNICEF, em Florença, Madrid, fevereiro de 2004, “as crianças indígenas fazem parte dos grupos mais vulneráveis e marginalizados do mundo, por isso é urgente agir a nível mundial para proteger sua sobrevivência e direitos (…)”

HAKANI, indiazinha que foi livre da morte.

O CASO “HAKANI”, uma menina chamada Sorriso:

Hakani nasceu em 1995, filha de uma índia suruwaha. Seu nome significa sorriso e seu rosto estava sempre iluminado por um sorriso radiante e contagioso. Nos primeiros dois anos de sua vida ela não se desenvolveu como as outras crianças – não aprendeu a andar nem a falar. Seu povo percebeu e começou a pressionar seus pais para matá-la. Seus pais, incapazes de sacrificá-la, preferiram se suicidar, deixando Hakani e seus 4 irmãos órfãos.

A responsabilidade de sacrificar Hakani agora era de seu irmão mais velho. Ele levou-a até a capoeira ao redor da maloca e a enterrou, ainda viva, numa cova rasa. O choro abafado de Hakani podia ser ouvido enquanto ela estava sufocada debaixo da terra.

Em muitos casos, o choro sufocado da criança continua por horas até cair finalmente um profundo silêcio – o silêncio da morte.

Mas para Hakani, esse profundo silêncio nunca chegou. Alguém ouviu seu choro, arrancou-a do túmulo, e colocou nas mãos de seu avô, que por sua vez levou-a para sua rede. Mas, como membro mais velho da família, ele sabia muito bem o que a tradição esperava dele. O avô de Hakani tomou seu arco e flecha e apontou para ela. A flechada errou o coração, mas perfurou seu ombro. Logo em seguida, tomado por culpa e remorso, ele atentou contra a própria vida, ingerindo uma porção do venenoso timbó. Para Hakani, ainda não era a hora de cair o profundo silêncio; mais uma vez ela sobreviveu.

Hakani, tinha apenas dois anos e meio de idade e passou a viver como se fosse uma amaldiçoada. Por três anos ela sobreviveu bebendo água de chuva, cascas de árvore, folhas, insetos, a ocasionalmente algum resto de comida que seu irmão conseguia para ela. Além do abandono, ela era física e emocionalmente agredida. Com o passar do tempo Hakani foi perdendo seu sorriso radiante e toda sua expressão facial. Mesmo assim o profundo silêncio não caiu sobre ela. Finalmente foi resgatada por um de seus irmãos, que a levou até a casa de um casal de missionários que por mais de 20 anos trabalhava com povo suruwahá.

Esse casal logo percebeu que Hakani estava terrivelmente desnutrida e muito doente. Com cinco anos de idade ela pesava 7 quilos e media apenas 69 centímetros. Eles começaram a cuidar de Hakani como se ela fosse sua própria filha. Eles cuidaram dela por um tempo na floresta, mas sabiam que sem tratamento médico ela morreria. Para salvar sua vida, eles pediram ao governo permissão para levá-la para a cidade.

Em apenas seis meses recebendo amor, cuidados e tratamento médico, Hakani começou a andar e falar. Aquele sorriso radiante voltou a iluminar seu rosto. Em um ano seu peso e sua altura simplesmente dobraram. Hoje Hakani tem 12 anos, adora dançar e desenhar. Sua voz, antes abafada e quase silenciada, hoje canta bem alto – uma voz pela vida.

Um filme foi feito sobre essa história, dirigido por David Cunningham, filho do fundador da JOCUM, uma organização missionária norte-americana, mas uma crise surgiu quando a ONG Survival International, sediada em Londres, divulgou uma nota em que acusa os autores do filme de incitar o ódio racial contra os índios brasileiros.

AÇÕES DIRETAS SOBRE O ASSUNTO:

O infanticídio entre indígenas é um tema que já gerou documentários, projetos de leis e muita polêmica em torno de saúde pública, cultura, religião e legislação, mesmo assim, é ainda utilizado por volta de 20 etnias entre as mais de 200 do Brasil.

A quantidade de índios mortos por infanticídio no país é uma incógnita. Nos dados da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) sobre mortalidade infantil indígena, esse número aparece somado a óbitos causados por “lesões, envenenamento e outras consequências de causas externas”. Esse grupo responde por 0,4% do total das mortes de menores de um ano de idade, segundo os últimos dados disponíveis da Funasa, de 2006

Tramitando no Congresso, a Lei Muwaji (em homenagem à índia que enfrentou a tribo para salvar sua filha com paralisia cerebral) estabelece que “qualquer pessoa” que saiba de casos de uma criança em situação de risco e não informe às autoridades responderá por crime de omissão de socorro. A pena vai de um a seis meses de detenção ou multa.

A proposta é polêmica entre índios e não índios. Há quem argumente que o infanticídio é parte da cultura indígena. Outros afirmam que o direito à vida, previsto no artigo 5º da Constituição, está acima de qualquer questão.

Segundo a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) está de acôrdo com essa prática, em nome do respeito à “cultura indígena” e uma vez que o próprio governo, a quem a FUNAI serve, quer legalizar o aborto no Brasil, compreende-se que a FUNAI seja a favor do infanticídio em nome do “respeito à cultura indígena”, pois o aborto é simplesmente infanticídio pré-natal.

QUEBRANDO O SILÊNCIO:

O momento é de mudança de atitudes. Algumas mulheres indígenas resolveram abrir a boca sobre esse assunto, tão polêmico e ao mesmo tempo tão doloroso para elas. A partir da iniciativa dessas mulheres, o tabu começou a ser quebrado e a mídia nacional vem veiculando diversas matérias sobre o assunto (Revistas Consulex – outubro 2005, Problemas Brasileiros, do SESC/SP de maio-junho 2007; Cláudia, julho de 2007; Veja, agosto 2007, dentre outras).

Um documentário sobre o assunto com o título de “Quebrando o Silêncio” (http://www.hakani.org/pt/quebrando_silencio.asp), aborda o infanticídio a partir do depoimento dos próprios indígenas. Reúne relatos de parentes de vítimas, de agressores e de sobreviventes. São ouvidos, ainda, antropólogos, advogados, religiosos, indigenistas e educadores.

Espera-se que este material ofereça dados suficientes para que se possa pelo menos tomar uma decisão importante. A decisão de levar essa discussão adiante – ouvir, discutir, refletir, com imparcialidade, e criar condições para que as comunidades indígenas possam resolver os conflitos que causam o infanticídio. Que, pelo menos por um momento, possamos silenciar ideologias e paixões e ouvir com empatia a voz de mulheres que se cansaram de enfrentar sozinhas essa dor. Que possamos tomar a decisão responsável de quebrar o silêncio sobre o infanticídio.

COMO ENVOLVER-SE?

ENVOLVA-SE PARTICIPANDO DA CAMPANHA PELA LEI MUWAJI, acesse:

http://www.hakani.org/pt/envolva_se.asp

Faça o download do livro eletrônico “INFANTICÍDIO INDÍGENA: A TRAGÉDIA SILENCIADA”, de Raymond de Souza, que visa alertar os brasileiros, especialmente as autoridades civis e religiosas, a fim de que façam um compromisso com a Cultura da Vida e trabalhem para acabar com o infanticídio em nossas tribos indígenas.

http://saintgabriel-international.com/infanticidio.htm#ebook

Fontes:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Problemas no coração do profeta


Por: Ezequiel Netto Data: 28/12/2011

Este artigo é o décimo de uma sequência sobre dons proféticos, assunto que o autor vem pesquisando desde 2002 e compartilhando em muitos lugares.

No artigo de número 6 desta seção, falamos um pouco sobre os princípios de interpretação de uma palavra profética, destacando que toda profecia é composta por 3 fases:

  • Revelação – o que Deus nos mostrou, muitas vezes de forma simbólica e por enigmas;
  • Interpretação – quando descobrimos o significado da palavra profética;
  • Aplicação – ou que atitude teremos a partir daquela revelação.

Vimos que a maioria das pessoas não têm problemas com a revelação em si, mas com interpretações erradas do que receberam da parte de Deus. E, por conseguinte, se a interpretação foi errada, as atitudes tomadas a partir disso também o serão.

Vimos que precisamos depender de Deus também para interpretar, e não usar da lógica humana ou até mesmo chegar a conclusões precipitadas para assuntos que nos parecem tão claros.

Para uma correta interpretação, não basta apenas termos uma compreensão do simbolismo. A interpretação passa por um processo em que nosso entendimento desses princípios interage com nossa sensibilidade ao Espírito Santo e também com a postura de nosso coração, se está ou não limpo e totalmente entregue ao Senhor.

Existem dois problemas em nosso coração que podem causar erros de interpretação, mesmo quando temos entendimento sobre o simbolismo na profecia:

  1. Quando nosso coração não está bem com Deus (um espírito de orgulho nos torna “não ensináveis”, o que leva a falsas interpretações);
  2. Quando nosso coração não está bem em relação às pessoas a quem estamos ministrando (feridas, amarguras, preconceitos).

Nosso coração precisa estar reto diante de Deus e puro perante as pessoas para que possamos interpretar corretamente as revelações proféticas. Uma revelação nos é dada como uma pedra para edificação e, quando é mal interpretada, torna-se para nós uma pedra de tropeço. Devemos crescer em conhecer o simbolismo, e também precisamos manter nosso coração cada vez mais purificado diante do Senhor, para sermos usados profeticamente. Ter comunhão com Deus é o elemento mais importante para interpretação de sonhos, visões e revelações (Ap 19.10b).

José e Daniel foram usados por Deus para interpretar sonhos mais que qualquer outra pessoa na Bíblia. Tinham ministérios e chamados muito semelhantes e trilharam caminhos totalmente diferentes até que Deus pudesse usá-los em seu propósito. José demonstrava ser orgulhoso desde a juventude, enquanto que Daniel escolhera o caminho da humildade. Os anos de sofrimento na vida de José foram necessários para quebrantá-lo e amadurecê-lo, o que podemos perceber em sua posição diante dos irmãos (Gn 37) e depois diante de Faraó. Daniel, apesar de sábio e de família nobre, já era humilde e quebrantado, e não precisou passar por sofrimentos para ter condições de servir a Deus diante do rei, interpretando revelações. Ele foi um dos poucos homens que escolheu espontaneamente este caminho. José e Daniel sabiam que a base para interpretação era conhecer a Deus (Gn 40.8/41.16; Dn 2.27-28). O orgulho nos torna independentes de Deus, e a humildade nos aproxima mais dele (Jo 5.19; Tg 4.6-8). Além de humilde, nosso coração precisa ser puro para vermos a Deus e conhecermos sua vontade (Mt 5.8).

Obstáculos que nos impedem de interpretar corretamente

1. Opiniões pessoais

Em vez de buscarmos em Deus a interpretação, muitas vezes somos tentados a decifrar logicamente a visão, com nossos pensamentos e opinião a respeito do tema. Isto é uma forma de orgulho. Precisamos do que está na mente do Senhor, e não na nossa. Um tipo de opinião perigosa é quando ela está relacionada com uma doutrina predileta, que é um ensino que elevamos a uma posição mais alta que os demais, e analisamos as coisas através deste filtro.

Vamos tomar por base um exemplo típico em nosso meio: Deus nos revela que um casal está tendo conflito e crise conjugal. Aqueles que valorizam demasiadamente as doutrinas de autoridade e submissão vão dizer que a mulher precisa se submeter ao marido, que o marido precisa amar sua mulher etc. Por outro lado, os irmãos com forte chamado evangelístico já vão achar que os problemas são decorrentes da falta de conversão genuína. Um adorador já diz que o casal deve ter momentos para adorar a Deus juntos. Ainda há aqueles que perguntam se o casal sabe invocar a Jesus.

2. Feridas e amarguras

As feridas e falta de perdão funcionam como um muro que impede que vejamos o que Deus está dizendo. Toda revelação negativa sobre uma pessoa ou grupo que tenha nos ferido deve ser considerada suspeita. Problemas do passado com uma liderança também podem fazer com que alguns interpretem negativamente e de forma bem dura uma revelação sobre estas pessoas. Em vez de construirmos, encorajarmos e confortarmos, nossa revelação será destruidora e desencorajadora. José aprendeu a perdoar todas as injustiças sofridas e se tornou muito útil em interpretar revelações.

Atualizando o ditado popular, podemos dizer: “Quem canta seus males – espanta!” A pessoa amargurada só traz palavras negativas, afastando os que estão ao seu redor.

3. Pecado e amarras espirituais

O pecado, escravidão espiritual, fortalezas malignas (como a cobiça, rebeldia, amargura, religiosidade, arrogância, impaciência), tudo isso perverterá nosso entendimento, gerando falsas interpretações.

4. Juízos carnais

Estes também são opiniões, sendo que mais traiçoeiras, pois tentam passar por discernimento espiritual. Ocorrem quando julgamos pela aparência exterior. Até mesmo Samuel, um grande profeta do Antigo Testamento, tinha esta deficiência (1 Sm 10.24/16.6-7). Uma boa maneira de nos livrarmos deste problema é ministrarmos de olhos fechados ou não vermos a pessoa para a qual estamos ministrando. Nossa interpretação não pode estar baseada em se a pessoa usa terno e perfumes caros, tatuagens e alargador na orelha, jeans rasgado e sujo ou coisas parecidas. Uma ovelha pode estar suja hoje e ser poderosa nas mãos de Deus, bastando apenas um bom mergulho nas águas do Espírito. E há engravatado tão maldoso que não muda nem na base da paulada.

O que é mais importante

É necessário crescimento e amadurecimento para desenvolvermos a habilidade de interpretar. Isto não acontece da noite para o dia. É importante conhecermos os símbolos, e também crescer na essência do que é ser profético – a dependência de Deus. Não podemos crescer no ministério profético sem dependência do Senhor e intimidade com ele. Para ouvir a voz doce e suave do Espírito, devemos estar bem próximos a ele, já que ele não se encontra gritando pelas praças.

O treinamento através do sofrimento

O sofrimento tem um papel importantíssimo no nosso amadurecimento espiritual, com reflexos bastante positivos no ministério profético. Depois de passar pela tempestade, os discípulos de Jesus chegaram transformados à outra margem do mar da Galileia. E por que razão Deus nos treina através do sofrimento?

  1. Para remover o orgulho, o sentimento de elite espiritual, de soberba, de achar que é o centro do avivamento.
  2. Para que reconheçamos nossa extrema necessidade de outros ministérios no corpo de Cristo. Devemos amar toda a igreja, e não apenas os que se parecem conosco e agem como nós.
  3. Para obter maior sabedoria e entendimento no processo profético. Não podemos subestimar o potencial profético de trazer efeitos negativos e não apenas positivos. O ministério profético tem tendência à manipulação e controle do rebanho e orgulho espiritual.
  4. Para mudar o conceito de uma igreja que abranja toda a cidade. Existe um ensino que diz que toda cidade deve ser governada por um presbitério único, em que a ênfase é colocada na estrutura, e não em relacionamentos de amor.
  5. Para que haja prestação de contas. Existe a necessidade de todo ministério ter pessoas maduras e responsáveis às quais devemos prestar contas, tanto no contexto local, como fora dele. É necessário que nos submetamos a pessoas com autoridade de nos corrigir e disciplinar.
  6. Para que compreendamos a necessidade de uma equipe ministerial equilibrada. As pessoas proféticas de alta tensão, com suas manifestações espirituais inusitadas, precisam do equilíbrio de pastores compassivos, teólogos dedicados e demais ministérios. A integração ministerial traz equilíbrio e estabilidade à igreja.
  7. Para que tenhamos condições de enxergar nossas fraquezas encobertas e falhas escondidas. Deus aplica em nossas vidas várias formas de disciplina visando a nossa purificação. Podemos reagir a tudo isto de maneira correta, que é suportar sua disciplina redentora, sabendo que é para nosso bem, para que possamos participar de sua santidade (Hb 12.7,10), ou reagir de forma errada, como: desprezar a correção, negando nossa necessidade de ajuste, alegando que os problemas são ataques de Satanás; cair na paralisia da autocondenação e desespero; e ficar amargurado contra Deus.

Crenças erradas no ministério profético

Existem alguns entendimentos referentes ao ministério profético que dificilmente são ensinados, mas que acompanham muitas pessoas, gerando muita confusão e aumentando a rejeição que muitos têm por este importante segmento da igreja. Escolhemos os três mais comuns:

1) Caráter = Unção

Muitas pessoas presumem que dons espirituais e unção são sinais de caráter transformado, concluindo também que o caráter é a base para recebermos os dons da parte de Deus. Outro erro é acreditar que as pessoas mais espirituais, maduras e santificadas são aquelas que têm os dons mais abundantes. Um fato importante com que devemos tomar bastante cuidado é que a maioria das pessoas proféticas não tem o dom de liderança essencial para a saúde, o equilíbrio e a segurança da igreja. Uma igreja guiada exclusivamente por profetas não oferece um ambiente seguro para o povo de Deus. O fato de haver poder e revelação fluindo através de determinados ministros proféticos não é necessariamente um sinal de que Deus está contente com as outras áreas de suas vidas.

2) Unção significa endosso divino para o estilo ministerial

Profetas tendem a pensar que o método ou estilo que usam são essenciais ao fluir da unção em suas vidas. Muitos benefícios trazidos à igreja pelo ministério profético são acompanhados de problemas relacionados ao estilo e metodologia heterodoxos que este ministério adota. Em muitos casos, precisamos ter coragem e dizer: “Você precisa parar com isto!” Temos uma forte tendência a sistematizar experiências espontâneas. Pensamos que se descobrirmos o método-chave, conseguiremos controlar as manifestações. Cremos que a unção vem ao cantarmos certa música, quando arrumamos as cadeiras de certa forma, quando se toca o saxofone, da mesma forma que o jogador de futebol acredita que seu time ganha quando está jogando com aquela meia velha e furada. As pessoas que chegam a este ponto sentem-se pressionadas a dizer que Deus está operando, mesmo quando não está. Este erro é terrível. Uma boa maneira é fazer como Elias e derramar água sobre nossos sacrifícios (1 Rs 18), dependendo exclusivamente de Deus, que manifestará seu poder sem a nossa ajuda.

3) Unção significa 100% de exatidão doutrinária

Na história da igreja sempre apareceram pessoas muito ungidas que adotaram doutrinas esquisitas. Um exemplo disto é William Branham, que acabou caindo em heresias. Ele acreditava que se Deus lhe dera tanta revelação profética, por que também não lhe revelaria a sã doutrina? Quando as curas, profecias e milagres passam a ser comuns, os profetas ficam insatisfeitos e querem se tornar mestres.