terça-feira, 27 de outubro de 2009

Desenvolvimento Sustentável do Espírito

Enquanto a humanidade, de forma global, começa a cumprir a profecia de Jesus ("Os homens desfalecerão de terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo...” - Lc 21.26), e cenas apocalípticas surgem na área financeira ("Ai! Ai da grande cidade... [Nova York, Londres, Paris, Tóquio, Hong Kong, São Paulo etc.] porque numa só hora foram assoladas tantas riquezas [Trilhões de dólares evaporaram das Bolsas em todo o mundo em poucas horas!]” - Ap 18.16,17), que tipo de atitude devemos ter diante do início de um novo ano, o ano de 2009?
Deus prometeu abalar tudo o que pudesse ser abalado (Hb 12.26-29). Portanto não devemos dar ouvidos às vozes que querem nos consolar dizendo que a situação não vai se agravar. Tempestades negras estão se avolumando no horizonte, e somente aqueles que tiverem firmes alicerces na Rocha eterna conseguirão permanecer firmes, inabaláveis.
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24.35). “Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 Jo 2.17). Assim como Abraão, que tomava uma providência prioritária em todo lugar onde acampava – edificava um altar ao Senhor para não perder a comunicação com o quartel-general - , nós também precisamos ter a prioridade máxima de estabelecer vias de comunicação com Deus. Somente aqueles que ouvem e obedecem à voz de Deus suportarão, firmes, as provações que virão sobre o mundo.
Dê atenção ao seu espírito
Recentemente, durante um período de comunhão, um irmão comentou que precisamos conhecer melhor nosso espírito. Conhecemos muito bem as necessidades, as dores e os desejos do corpo e convivemos constantemente com os sentimentos, as motivações e as reflexões da alma – mas quantos conhecem a voz do próprio espírito? Por ser algo mais invisível e intangível, muitas vezes o espírito também passa a ser inaudível. Na conferência a três, as vozes estridentes do corpo e da alma fazem calar o sussurro do espírito. Até mesmo na criação dos filhos, tomamos o máximo de cuidado com o corpo, correndo para o hospital ao menor sinal de problema, e com o desenvolvimento intelectual e emocional da alma, colocando-os nas melhores escolas e cursos, enquanto a nutrição e o crescimento do espírito costumam ser deixados em último plano.
Nestes dias de crescente e justificável preocupação ecológica, tem-se popularizado muito o uso do termo “desenvolvimento sustentável”. Para aqueles que não estão tão antenados com a preservação do planeta, é uma expressão que descreve a estratégia que visa conciliar a produtividade econômica com a conservação do meio ambiente. Por exemplo, em vez de desmatar indiscriminadamente a floresta para plantar soja ou milho, a sugestão é desenvolver culturas que produzam alimento no meio das árvores. Dessa forma, haveria sustento para as populações necessitadas, e o meio ambiente também seria respeitado.
Quando meu amigo falou sobre a necessidade de cultivarmos melhor a vida espiritual, essa expressão ecológica logo me veio à mente. Muitas pessoas pensam que é impossível desenvolver uma vida espiritual em meio à correria e às pressões do dia-a-dia de uma grande cidade em pleno século 21. Elas acham que, se alguém deseja realmente tornar-se “espiritual”, é necessário retirar-se das grandes cidades para um lugar bem quieto no interior, parar de estudar e trabalhar secularmente e dedicar-se por completo ao estudo da Bíblia e à oração e ao jejum. Seria a mesma atitude de um ativista ecológico radical que prefere preservar o mico-leão-dourado a matar a fome de centenas de seres humanos. Já os capitalistas selvagens querem destruir o planeta para produzir mais riquezas. No nível espiritual, correspondem aos cristãos contemporâneos, para os quais basta freqüentar as reuniões das igrejas aos domingos a fim de garantir a salvação – enquanto continuam na mesma correria desenfreada dos não-cristãos atrás de dinheiro e diversão ao longo da semana.
Penso que, assim como o “desenvolvimento sustentável” procura uma terceira via entre os dois extremos na esfera ambiental, o “desenvolvimento sustentável do espírito” apresenta um terceiro caminho para trilharmos na vida espiritual. Não precisamos ser reclusos superespirituais, mas também não precisamos ser cristãos materialistas. Como diz Henri Nouwen no livro Espaço para Deus (um livro que, mais do que qualquer outro, tem exercido grande impacto sobre a minha vida):
Jesus não reage ao nosso estilo de vida cheio de preocupação dizendo que não deveríamos estar tão ocupados com afazeres terrenos... Nem sugere que nos afastemos de nossos envolvimentos para viver vidas calmas, tranqüilas e retiradas das lutas do mundo... Jesus não quer de forma alguma que deixemos nosso mundo de muitas facetas. Antes, quer que vivamos nele, mas firmemente arraigados no centro de todas as coisas. Jesus não fala sobre uma mudança de atividades, uma mudança de contatos, ou até uma mudança de ritmo. Ele fala sobre uma mudança de coração (cap. 2, págs. 16 e 17).
Essa mudança de centro começa com a conversão, mas continua com a manutenção de um espaço e de um tempo exclusivos para Deus na rotina diária. Assim como reservamos certo tempo para higiene e alimentação e gastamos horas voltadas ao intelecto e ao lazer, também precisamos dedicar tempo para desenvolver o espírito a fim de afinar os ouvidos e ouvir a voz de Deus. Aliás, essa deveria ser a atividade mais importante de nossa vida. Somente depois de cuidar disso é que se deve dar atenção às outras necessidades. Desenvolvimento sustentável do espírito significa poder ouvir e obedecer à voz de Deus sem abandonar as outras atividades naturais. No meio da floresta de atividades seculares, é possível desenvolver uma plantação produtiva de paz, alegria, amor e tantos outros frutos do Espírito.
O segredo da espiritualidade
Ficamos muito admirados com as grandes vitórias e testemunhos dos heróis da fé. Contudo, se olharmos atentamente para a fonte de seus sucessos, sempre encontraremos a prática do devocional, que consiste no tempo passado na presença do Senhor em oração e meditação na Palavra. Podemos pensar em Daniel, fortemente pressionado pelas necessidades do dia-a-dia administrativo de um grande império. Qual era o segredo de sua força? Diariamente, mesmo longe de sua terra e sem templo ou altar, ele entrava “em sua casa, no seu quarto em cima, onde estavam abertas as janelas que davam para o lado de Jerusalém; e três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças diante do seu Deus” (Dn 6.10).
E quanto a Jesus, o Filho de Deus, a Palavra encarnada? Certamente, ele não tinha necessidade dessa disciplina de oração diária! Será que não tinha uma “linha direta” com o céu que o liberasse de uma disciplina tão “humana”? Entretanto, não é o que se vê, muitas vezes, nos evangelhos: “De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1.35).
Não é possível viver a vida cristã sem contato diário com Deus. Assim como um destacamento do exército não precisa só de armas e munição mas, em primeiro lugar, de radiocomunicação com o quartel-general para não correr o perigo de atacar os próprios companheiros por engano ou se distanciar demais dos outros destacamentos, nós também não podemos saber como agir em meio ao tiroteio do dia-a-dia sem as orientações precisas do nosso Comandante Supremo. O único motivo por que geralmente não temos tal hábito e não encontramos tempo ou força de vontade para manter essa disciplina é a maldita autoconfiança. Pensamos que podemos nos virar bem com a própria experiência, sabedoria e estratégias. Por isso, apenas quando as coisas começam a sair do controle, e entramos em pânico, achamos o tempo e o desespero para orar e clamar por socorro. Confiamos nos recursos da alma e perdemos a chance de viver no Espírito.
Para enfrentar os dias escuros que virão, precisaremos de muito mais do que os recursos da alma. Não teremos condições de discernir o espírito de engano que vem sobre a Terra se o nosso espírito não estiver bem afinado com o Espírito Santo, o Espírito da verdade. Não conseguiremos resistir às tentações sem a graça diária proveniente da leitura da Palavra e da oração. Não saberemos como trabalhar, onde morar, que decisões tomar sem as sábias orientações do Consolador. A melhor estratégia que você pode adotar para o ano de 2009 é levantar um altar diário de comunhão com Deus. Muitas vezes, você não ouvirá a voz de Deus, mas o fato de erguer o altar e oferecer um sacrifício diário tornará seu espírito disponível para Deus, manterá as vias de comunicação abertas e permitirá que seus pés fiquem firmes sobre a rocha mesmo em meio à tempestade.
A pergunta-chave da entrevista final
Nesse contexto, quero destacar uma dica indispensável. Qualquer pessoa séria que deseja desenvolver um hábito saudável ou desvencilhar-se de um vício ou hábito nocivo sabe que precisa de um grupo de apoio. Para isso, existem os Vigilantes do Peso, os Alcoólatras Anônimos etc. Nesse caso também, é de suma importância que tal pessoa procure outros irmãos e amigos que sintam a mesma dificuldade e, assim, possam ajudá-la a manter-se firme na disciplina. Essa deveria ser a função primordial da igreja! Infelizmente, a maioria das igrejas não exerce tal função hoje. Geralmente, nutrem a mentalidade de que basta ser fiel nas reuniões. Porém, quando chegarmos à presença de Deus, ele não nos perguntará em quantas reuniões estivemos ou quantas vezes oramos e lemos a Bíblia. Ele estará interessado em uma única coisa: se nos conhece, e se nós o conhecemos.
Nas parábolas de Jesus sobre os momentos dramáticos da entrevista final que decidirá nosso destino eterno, quando ele despacha alguém, sempre diz: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim...” (Mt 7.21-23; Mt 25.12; Jo 17.3). Deus só se interessa em que as pessoas o conheçam e andem com ele. No fim, nosso “eletrocardiograma” dirá se passamos os dias ouvindo a voz de Deus e lhe obedecendo ou se seguimos os próprios desejos. Portanto, a igreja deveria ser o grupo de apoio que ajuda, incentiva, exorta e repreende até que todos comecem a encontrar-se com Deus individualmente e realmente conhecê-lo.
Deus não receberá manadas no último dia. Ele desejará ver-nos face a face, pessoalmente. E a questão fundamental, o divisor de águas, será se ele nos conhece ou não, se andamos com ele ou não, se nossa vida foi compartilhada com ele ou não.
Portanto, diante do exposto, o que você me diz? Quais são os planos para 2009? Quais são seus temores e medos? Quais são seus sonhos e anseios? Quais são suas expectativas? Você está no centro da vontade de Deus para sua vida? Está ouvindo a voz de Deus com instruções personalizadas? Está obedecendo às ordens de Deus? Você tem-se encontrado com Deus? Sente alegria, ânimo, paz e graça da parte de Deus energizando seu dia-a-dia? Você tem irmãos e amigos com quem compartilha derrotas e vitórias e que lhe desafiam a andar mais perto de Jesus? Se suas respostas não lhe trazem satisfação, preste atenção aos seguintes versículos:
“Pelo que eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á” (Lc 11.9,10).
“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).
“Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus. Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef 5.15-17).
por Harold Walker


revista impacto

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